13 de março de 2009

Por você, por mim.

Listas são sempre polêmicas e por isso mesmo irresistíveis. Ele está entre meus cinco preferidos de poetas brasileiros. Ao lado Drummond, Vinicius, João Cabral e Augusto dos Anjos. Sempre na Vanguarda, foi o primeiro a dela se desligar. Escolheu a eternidade. Figura correta, de posições marcantes. Poeta, artista plástico, critico de arte, jornalista. Seu nome? José Ribamar Ferreira, mais conhecido por Ferreira Gullar.

Poema homenagem, escrito pelo nosso amigo Nino:



Por você, por mim


Hoje, morreu meu poeta preferido( O Homem)


Não era Vinícius, Não era Drummond.

Tampouco era o Chico.

Homem Comum,

Do Nordeste veio a migrar

Sua mãe o chamava Ribamar,

Cá entre nós, às vezes o chamo só por Gullar.Que

quando mais moço,aprendeu o Marxismo

Seu maior sonho

Era o fim do imperialismo

Mais tarde, do marxismo desacreditou.

o poeta preferido ,do meu poeta preferido

acho que era um tal de

Rimbaud

De Rimbaud,nada mais irei falar

Minha intenção, é falar apenas de Gullar

que nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 30

em plena “revolução”.

Em 49, ainda jovem, escreve “Um pouco acima do chão”.

Livro do qual nunca li, mas sei por Gullar, que de 100 crianças 78 morrem no Piauí

Que duro retrato da realidade que de 100 crianças 78 morrem antes de completar o anos de idade

De 100,sobram só 22

Não sei se até os 18

Terão o feijão com arroz

(The Sky above us)

Diarréia, é

“ Uma bomba suja e mansa que elimina sem barulho vários milhões de crianças”

Poesia subversiva, rara,que não comove nem o pau-de-arara

Poesia subversiva luta armada?

“Você é mais bonita que uma bola prateada”,

“que o mar azul-zafira da República Dominicana”

“e quase tão bonita quanto a Revolução Cubana”

Gullar lutou, lutou pela igualdade.

todas as coisas que falava

estão na cidade.

“O homem está na cidade

como uma coisa está em outra

e a cidade está no homem

que está em outra cidade”

não há em sua poesia,

a esperada neutralidade

“Como ser neutro se acabou de chover e a terra cheira e o asfalto cheira,

e as árvores estão lavadas com suas folhas em seus galhos”

“mas quem,dentre as hostes celestes,me reconheceria pelo caralho?”

A Vida Bate, a vida passa,as vezes sem se perceber

Em 1982 surge os Sessenta anos do PCB.Em 1922,

Cantaram e fundaram o partido,

Astrojildo

e mais 8, e isto em 22

Nequete,um dos 8

citava Lênin a 3 por 2.

“Como dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena

embora o pão seja caro

e a liberdade pequena”.Pequena,pequenina

bem miúda

Tão pequena que é impossível sua

Gravura

Somos

Muitas Vozes

Barulhos

Somos

Muitas Vozes

Somos

É preciso lutar.Há bem e mal?

Há na vida, uma Questão, meramente Pessoal?

Nós, Latino-Americanos

“somos todos irmãos

não porque tenhamos o mesmo berço

o mesmo sobrenome

temos o mesmo trajeto de sanha e fome”

Quem coloca a bomba suja no corpo deste homem?

Gullar, Gullar

. escrevo por você,por mim

não escrevo por decreto

Gullar Gullar

Teoria do não-objeto

Gullar Gullar

O poeta do existir,

do poema sujo

“tua gengiva igual a tua bucetinha que parecia sorrir entre as

folhas de banana entre cheiros de flor e bosta de porco aberta

como uma boca do corpo(não como tua boca de palavras)”

mas como era o nome dela?

“Perdeu-se na carne fria

perdeu-se na confusão de tanta noite e tanto dia

perdeu-se na profusão das coisas acontecidas

constelações de alfabeto

noites escritas a giz

pastilhas de aniversário

domingos de futebol”

Gullar ,Gullar

Gullar

O poeta do cotidiano

Tudo bem claro

Nunca atrás dos panos

Gullar Gullar

Paulo Roberto Parreiras Que Não Passou No Vestibular

História De Um Valente

Peleja De Zé Molesta Com Tio Sam

Ferreira Gullar,

Que eu leio até de manhã!

A alegria, Ao rés-do chão,agora quis descer,e não havia chão

Pra ti, Ribamar, não há mais nada, nem a vida dura e amarga

Nem a vida

Bela

nem Helena nem Vera

nem Nara nem Gabriela

nem colo de menina

nem cheiro de tangerina

Tampouco a Tereza e a Maria

Na Vertigem Do Dia

Onde Escondeste o Verde Clarão dos Dias?

Ribamar já se foi

Com ele várias lembranças

A tarde em Buenos Aires,São Luís e sua infância

Quem tomou deste menino o seu rosto de criança?

Ribamar já se foi

Não pode nos dizer

Sobre este assunto

Jamais vamos saber

Ribamar está

Morto “a vida só consome o que a alimenta”

como todos um dia vamos estar

mas você está vivo

ainda pode mergulhar

neste universo de açucena

que venho cá te mostrar

Ribamar está morto (uma pena), mas,

Viva Ferreira Gullar!

Nino Ferreira

3 comentários:

Anônimo disse...

Gullar,quem não leu precisa ler.Principalmente poema sujo.Abraços,Vasco sempre!

Unknown disse...

Retrato do Artista Quando Coisa
Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.

O ser que na sociedade é chutado como uma
barata -- cresce de importância para o meu olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar
para baixo.

Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão --
Antes que das coisas celestiais.

Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.

Manoel de Barros

Discípulo de João Cabral de Melo Neto...

Thiago Penna disse...

Belo poema Nino, tá de parabéns
viva gullar, viva Manoel de Barros, bem lembrado pela Nati. Viva a porra da poesia,que na suas "coisas infímas" nos emocionam