Parece que março é o mês da poesia aqui neste enfermo blog, e relendo A fila sem fim dos demônios descontentes (Ed. 7 Letras, 2006), o livro de estréia de Bruna Beber (acho que já falei dela aqui), resolvi publicar duas belas poesias, que se tornaram relevantes nesta releitura. Bruna é uma das melhores poetas do cenário contemporâneo, sua poesia é delicada porém sem ser "pau mole” (não consegui achar termo melhor). O blog dela está linkado aqui desde o inicio.Eu indico com gosto.Bon Appetit
ap.
na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
e batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
E no tédio que é
Essa falta de paixão
GRACILIANO BEAT
vejo dragões bêbados
beliscando pipas agarradas
na roda- gigante imaginária
dos moinhos
ando arruinado
e louco
mas otimista
não fossem os vícios
e os códigos de defesa
do consumidor
eu diria que
estou farto de tudo.
espero o outono chegar
e enferrujar as árvores
pra eu andar chutando folhas
e não chutando lixo.
vejo dragões bêbados
beliscando pipas agarradas
na roda- gigante imaginária
dos moinhos
ando arruinado
e louco
mas otimista
não fossem os vícios
e os códigos de defesa
do consumidor
eu diria que
estou farto de tudo.
espero o outono chegar
e enferrujar as árvores
pra eu andar chutando folhas
e não chutando lixo.