22 de setembro de 2010

Uma Última Vez

Numa das primeiras postagens que fiz, publiquei um pequeno poema de minha autoria. Publico novamente devido a sua perfeita tradução da situação em que nos encontramos. Os ecos dissonantes fecham pra sempre, foi ótimo enquanto durou, mas agora precisamos nos dedicar aos sonhos sonhados. Deixo também publicado um vídeo que representa o momento mais marcante nesses dois anos.Acho que a idéia de expor nossas idéias e assim, criar algum debate, foi bem sucedida.Obrigado a todos os que comentaram e divulgaram. O blog ficara online por um tempo, flutuando bela web....adeus, até breve e cheers

"A invenção do amanhã
Ficará para depois
Até resolvermos hoje
O que sonhamos ontem."                         

                                           03/08/08



3 de julho de 2010

Escorpiana

Sentado em inteiro desanimo, observava o cronometrado avançar das estações na espera de que a próxima fosse a minha. Não percebi a sua entrada,somente quando se inclinou a frente para mexer em sua bolsa, somente quando seu formidável traseiro se pois bem em frente a minha cara , foi que a percebi. Sentou-se em seguida e meus olhos encontraram os seus por uma fração de segundos,não agüentei e logo desviei tamanha energia. Era uma escorpiana, só podia ser, com aqueles olhos azuis magnéticos.De relance percebi que ainda me olhava, seus lábios formavam um pequeno sorriso, cínico. Seu corpo abundante era coberto por uma mini saia preta e uma camisa vermelha escarlate,bem justa e apertada. Era uma escorpiana, só podia ser.
Tentava controlar o incomodo que tomava meu corpo, olhava para todos os lados,para o teto, para o chão, observava todos os sapatos contidos naquele vagão, mas não ousava encará-la.Não observava, mas sentia que era observado.O tempo passava, e o desconforto só aumentava. A próxima estação foi anunciada, finalmente era a minha e respirei aliviado.Coloquei-me bem em frente à porta, queria ser o primeiro a sair daquele ambiente claustrofóbico.Pouco antes de o trem parar senti alguém se aproximando lentamente, era você postada logo atrás, podia ver pelo reflexo na porta. E somente nesse momento te encarei, olhei dentro dos seus olhos, através do reflexo do vidro. Você não desviou, me olhou provocativa. O sinal da porta tocou, e você se projetou para frente, apertou minha bunda e sussurrou em meus ouvidos: “seu frouxo”. As portas do vagão se abriram, você saiu, eu estático permaneci, até que as portas novamente se fechassem.

26 de junho de 2010

A luz vermelha do relógio segue implacavelmente marcando minuto a minuto o tempo que passa em mais uma manhã de um dia qualquer, que transcorre normalmente, com jovens deprimidos rumando para a escola ,casais acordando de uma noite de amor e trabalhadores amontoados em trens lotados. A manhã prossegue rotineira, mas eu não consigo me levantar.Meus olhos ardem a cada vez que os abro para conferir o tempo do relógio.Meu corpo dói toda vez que busco uma nova posição.A melhor é a fetal, onde permaneço agora imóvel, com os olhos semicerrados, encarando o relógio, que ao contrario de mim insiste em continuar. Meus pensamentos agora fluem contra a minha vontade. Vôo longe, penso em Dachau, em Soweto, em Gaza.,penso em trens lotados de sonâmbulos, fantasmas e almas desalmadas.A luz vermelha do relógio segue implacavelmente marcando minuto a minuto o tempo, porém o meu já expirou , não consigo me levantar.

20 de junho de 2010

Nonada

Andava por aí, de um lado para o outro como alguém perdido , porém como é comum aos perdidos não andava por aí de um lado para o outro a procura de alguma coisa.Não andava a procura de nada, pois sabia que nada estaria a altura da minha procura.

1 de junho de 2010

24 de maio de 2010

Íntimo e Pessoal


Cat Power adentra suavemente no palco do circo voador na lapa carioca ,numa agradável noite de sexta feira 21 de março. Sente se o frenesi e o nervosismo de uma plateia emocionada . De inicio logo vem um petardo, Don´t Explain de Billie Holliday, flashes pipocam de todos os lados. Quem conhece Cat Power já se acostumou com seu jeito particular de cantar, ela geme, sussurra, parece que a música sai com dificuldade. E essa é a verdade,seja em suas composições próprias seja em suas versões, nada ali é frio, calculista ou pragmático. Charlyn Marie Marshall, Chan Marshall, Cat Power, não são apenas três faces de uma mesma moeda, são a prova de um longo processo de desconstrução de uma artista em busca do essencial. Ela canta suas dores, seus desamores, seus dessabores de forma intima e pessoal, . O palco do Circo Voador se mostra o lugar perfeito para seus shows, a simbiose com a plateia é total, estão todos confortaveis com a escuridão do palco, todos entregues e prontos para ouvir os suspiros da artista, a noite segue em ritmo de catarse.

Acompanhada de uma banda minimalista dessa vez, Cat se entrega de corpo e alma em cada música, em cada nota, em cada movimento. O primeiro grande momento da noite vem logo na terceira música, a dramática Woman Left Lonely de Janis Joplin. Uma mulher eternamente solitária, pensando em seu homem, seu antigo amor, seu algoz. No fim Cat parece nos mandar um recado com essa música, “She’s got to do the best that she can”, e todos nós naquela plateia hipnotizados, vemos uma artista integral, se doando ao máximo.
Algumas músicas depois veio o segundo grande momento do show. Ouve-se a introdução de Metal Heart, sua composição mais celebrada. É sem dúvida sua música mais doida, Cat se convence e tenta nos convencer, de que não adianta, pois nos sofredores costumeiros estaremos sempre condenados ao fracasso, a insignificância, pois nunca nada bastará. Ela e nós somos anjos caídos, que entendemos a peso que pode ser o fato de simplesmente viver.

Metal Heart é a primeira de uma sequencia antológica, em seguida vem Sea of love, a mais simples e bela balada de amor que conheço. A vontade é de chorar, mas Cat não deixa, ela me hipnotiza, olha nos meus olhos, estamos os dois e todo o circo com os olhos encharcados. Ela estende as mãos e todos nós embarcamos na onda mágica que toma conta do Circo Voador. Logo em seguida vem a animada e swingada The Greatest, um breve sopro de ar em meio a tanta emoção e sofrimento. As músicas seguem, lentamente, uma a uma, a plateia já está ganha, sempre esteve, a catarse por fim termina com uma versão curta de Angelitos Negros e I´Dont Blame You. Cat se despede, agradece, distribui flores brancas para a platéia perfumando o ambiente e como sempre se desculpa.

Desculpa talvez por ter nos expostos a um canto tormentoso, a lamentos íntimos e pessoais. Mas não nos importamos, pois ao fim, todos temos a certeza de que poucos artistas são tao verdadeiros quanto Cat Power. Ao fim todos percebemos que aquelas horas ali não serão facilmente descartadas, agora existe uma especie de permanência, onde a voz rouca de Chan Marshall sussurrará em nossos ouvidos por algum tempo e sua imagem , uma gata tímida e arisca ao mesmo tempo, contorcida ali no canto do palco povoará nossas memorias nos lembrando das horas mágicas compartilhadas numa agradável e inesquecível noite de sexta-feira.





17 de abril de 2010

Por um melhor abril

É fácil reconhecer uma obra-prima. Quando estamos frente a ela, sentimos algo diferente. Sentimos a grandeza atemporal que lhes é peculiar.Ultimamente uma obra prima tem me atordoado. Falo aqui de Ne Me Quittes Pas, canção composta pelo belga francófono Jacques Brel.Desde a primeira vez que ouvi, nos tempos em que ia para a cama sonhando com a Mel Lisboa (Presença de Anita), na marcante gravação de Maysa, eu sentia que essa era uma música especial. Detalhe é que na época não entendia absolutamente nada de francês.

Jacques Brel é um ícone da Chanson Française. Não me resta dúvida que muito se deve ao fato de ter composto Ne Me Quittes Pas.Essa canção, composta no período de separação entre Brel e Suzanne Gabrielle, é o encontro perfeito de letra e melodia, é a prova cabal de que letra também é poesia. Brel evoca o romantismo em época de realismo, Brel evoca os grandes poetas, se iguala a um Keats, Byron, Shelley e Goethe.Nada mais é do que um Werther ,vencido, derrotado, que explode de amor , um amor não correspondido, um amor trágico, uma amor expirado. Ele clama que a amada não o abandone. Promete a ela, todo o universo, se ajoelha e lhe promete fazer rainha. Vemos um homem ao mesmo tempo apaixonado e derrotado.Poderiamos dizer até um covarde,que não aceita o fim do seu amor.

Ne Me Quittes Pas é uma obra prima, uma poesia de grande estirpe. E no vídeo abaixo, o próprio Brel canta sua composição. Tenho me perguntado se essa interpretação também não seria obra-prima.?

Como a incorporação está desativada aqui vai o link:

Ne Me Quittes Pas

8 de abril de 2010

Grandes Pensamentos (3)


Voltando a série de grandes raciocínios e grandes frases. Algumas do grande filósofo e sobretudo romancista Albert Camus. Todos as frases foram tiradas se seu romance A Queda publicado em 1956.

"Quando se pensou muito sobre o homem, por trabalho ou vocação, às vezes sente-se nostalgia dos primatas."


"Quando não se tem caráter é preciso mesmo valer-se de um método."


"Há sempre razão para matar um homem. Inversamente é impossível justificar que viva"


" A morte é solitária, ao passo que a servidão é coletiva."

"Não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos."

4 de abril de 2010

Trololo

Nada como a arte soviética. Se é para grudar no ouvido, que seja da forma mais ridicula, melhor do que a Lady Gaga.


27 de março de 2010

Verão, Outono, Tédio, Melancolia ...

Parece que março é o mês da poesia aqui neste enfermo blog, e relendo A fila sem fim dos demônios descontentes (Ed. 7 Letras, 2006), o livro de estréia de Bruna Beber (acho que já falei dela aqui), resolvi publicar duas belas poesias, que se tornaram relevantes nesta releitura. Bruna é uma das melhores poetas do cenário contemporâneo, sua poesia é delicada porém sem ser "pau mole” (não consegui achar termo melhor). O blog dela está linkado aqui desde o inicio.Eu indico com gosto.Bon Appetit


ap.

na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
e batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
E no tédio que é
Essa falta de paixão


GRACILIANO BEAT

vejo dragões bêbados
beliscando pipas agarradas
na roda- gigante imaginária
dos moinhos

ando arruinado
e louco
mas otimista

não fossem os vícios
e os códigos de defesa
do consumidor
eu diria que
estou farto de tudo.

espero o outono chegar
e enferrujar as árvores
pra eu andar chutando folhas
e não chutando lixo.

18 de março de 2010

Sobre a arte de ser

TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte

14 de março de 2010

3 em 1

Três obras primas em um vídeo:

Uma grande atuação
Um grande filme
Um grande poema





OS HOMENS OCOS (The Hollow Men - T.S. Eliot)

"A penny for the Old Guy"
(Um pêni para o Velho Guy)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)

7 de março de 2010

Atoms for Peace

O grande Tom Yorke decidiu dar um gás em sua carreira solo. Formou um grupo chamado Atoms for Peace (nome de uma das músicas de seu álbum solo The Eraser de 2006) com o baixista Flea (Red Hot Chili Peppers), o baterista Jay Waronker (que já tocou no R.E.M.), o multiinstrumentista brasileiro Mauro Refosco (Forro in the Dark) e o produtor Nigel Godrich, que já trabalhou com Radiohead e Beck. A principio eles estão por aí se divertindo, tocando as músicas do The Eraser. Mas o que realmente é digno de nota é que o Tom está compondo algumas músicas novas, e não custa lembrar que o Radiohead esteve no fim do ano passado em estúdio, preparando um álbum novo. É uma prática comum do Tom Yorke, testar e apresentar músicas que futuramente farão parte do repertorio do Radiohead.Só nos resta aguardar e aproveitar, essa reunião de talentosos músicos. E saber que Tom ainda está em forma como prova a bela, Lotus Flower.



PS: Eu tinha prometido escrever sobre a minha visão de como foi o Show do Coldplay na apoteose, mas fiquei com preguiça. Até porque já disseram muito do que ia dizer.


1 de março de 2010

Solidão povoada! O novo espírito do Rock no show do Coldplay!

Podemos dizer que hoje, início de século XXI, o conceito de festa, entendido como fenômeno coletivo de comemoração e compartilhamento de experiências comuns, cuja finalidade é atingir a catarse coletiva, está seriamente ameaçada.

Cada vez mais, as pessoas assistem a seus espetáculos como espectadores frios e distantes, "mônadas" isoladas em suas ilhas digitais, preocupados em registrar através de suas câmeras e celulares cada vez mais modernos, cada detalhe do show, buscando mesmo que inconscientemente, a eternização do momento, porém, sem nunca atingir o clímax. É o que chamo de "condição de Nosferatu".

Afinal, o que representa a figura desse macabro, porém intrigante personagem, que no cinema nos foi mostrado em duas grandes filmagens, a primeira um clássico do expressionismo alemão de Murnau e a segunda, uma refilmagem de Herzog, com atuação magistral de Klaus Kisnski.

Nosferatu representa o tédio da imortalidade. Um vampiro condenado a viver as angústias de uma vida marcada pela falta de todas as perspectivas, nem mesmo a morte é tida como uma! Uma vida vazia, sem finalidades transcendentes. Uma vida guiada pelo simples viver e não pelo ideal de beleza do "viver bem".

Hoje tentamos através da biotecnologia e da tecnociência alcançarmos a tão sonhada imortalidade, ou pelo menos, o prolongamento máximo de nossa vida. Porém, extremamente individualistas como estamos, acabamos, assim como Nosferatu, vivendo por viver, viver mais e sempre mais porque simplesmente a vida não tem sentido e a morte muito menos! Afinal, o viver bem significa o compartilhamento coletivo de experiências comuns e ideais.

O rock n roll sempre foi um exemplo de busca pela catarse coletiva, impulsionada por uma série de contestações, seja no plano comportamental, estético, político, econômico, sexual e moral. O seu motor sempre foi alguma indignação. Ia-se num show de rock buscando atingir o clímax, compartilhando com os outros a potência e a fúria subversiva que a música proporcionava. Buscava-se encontrar no artista e na multidão de anônimos, os ecos para as suas angústias, raivas e amores. Buscava alguém que entendesse o que você sentia, pois também sentia o mesmo. Afinal, a vida não é dominada por um estado perene de algum sentimento, como uma eterna alegria. A indignação é o motor das transformações!

Os exemplos são muitos, desde os antológicos shows do Doors, uma espécie de ritual xamânico liderado por Jim Morrison, o ritmo contagiante dos Stones, o Woodstock com a guitarra mágica de Hendrix e a alma na voz de Joplin e o The Who quebrando tudo em seus shows. Depois vieram os espetáculos de Led Zeppelin e Pink Floyd. A música em si já era uma experiência coletiva, pois você comprava um vinil e reunia os amigos para escutá-lo pela primeira vez.
Veio o punk e o pós-punk e os shows lotados de pessoas munidas de sentimentos verdadeiros, proletários, filhos de proletários, desempregados, filhos da classe média sem futuro. The Kids aren´t all Right! As pessoas se odiavam para depois se amar. Veio o metal e o Hard rock e o bicho continuou pegando. O início dos anos 90 trouxe o Grunge e com ele a denúncia de que as crianças continuavam mal. Veio o Britrock, menos político, porém conservando o espírito e a alma do bom e velho rock n roll, ou seja, pessoas que amavam aquilo que escutavam!

Ontem, depois do show do Coldplay, minha banda favorita na atualidade, rodeado de pessoas ricas, brancas e bem vestidas, estando preso e apertado para dar conforto aos VIPs, percebi que o espírito do rock está enfraquecendo.
Hoje, vai-se a um show de rock tão blasé, quanto se vai a um shopping center comprar uma camisa!
Ninguém interage com ninguém e todos se preocupam em registrar isoladamente em suas "memórias artificiais" cada passo do artista no palco, matando com isso o que há de mais grandioso numa celebração que é a catarse oriunda do compartilhamento das mesmas experiências coletivas. Como esquecer do primeiro show de rock, dos primeiros festivais independentes, das primeiras “rodas”? Não é preciso máquina digital para me fazer lembrar desses momentos, assim como não é preciso máquina nenhuma para me fazer lembrar da primeira vez que entrei no Maracanã e vi impávido, 100 mil pessoas gritando!
O homem de hoje, refém incondicional das memórias artificiais, não percebe que enquanto maneja suas máquinas perde o momento natural da passagem do tempo e enfraquece sua memória natural, sua percepção do mundo real. Será que no futuro teremos memória natural?
No final, o show passou e não mudou a vida de ninguém. Todos voltaram calados para suas casas, ligaram seus computadores e disponibilizaram para o mundo inteiro seus vídeos e fotos.
Por fim, registramos tudo, cada detalhe, cada minuto e cada segundo do show em nossas memórias artificiais, porém, assim como um Nosferatu eternizado, estivemos o tempo todo, sozinhos, muito sozinhos!

24 de fevereiro de 2010

IRM


IRM é o nome do último cd da cantora e atriz Charlotte Gainsbourg, que estrelou recentemente o excelente e polêmico filme "Anticristo" do cineasta dinamarquês Lars Von Trier.A produção do álbum ficou por conta do talentosíssimo Beck, que com certeza aprendeu muito com seu produtor, o genial Nigel Godrich.

O cd é uma mistura de boas baladas que transitam entre o romântico e o melancólico com uma levada bem peculiar do violão de Beck, bem ao estilo de "Sea of Change" e "One Foot on the Grave", somado a doce voz de Gainsbourg, passando por faixas que exploram ambientes caóticos e claustrofóbicos como tubos de tomografia computadorizada, que acabaram por dar origem à letra de IRM que leva o mesmo nome do cd.

Na linha mais pop, o destaque vai para a primeira musica de trabalho "Haven can Wait", cujo clipe já esta disponível, assim com a primeira faixa do cd "Master's Hand", com uma base de cello dando um tom mais soturno. Já no campo das outras sonoridades exploradas por Gainsbourg e Beck, destaca-se a já citada IRM que muito lembra Portishead. O detalhe dessa musica é que, como dito acima, ela foi compostas após uma série de tomografias computadorizadas feitas pela cantora. A letra é sensacional e termina com uma ótima pergunta mais ou menos assim: diga-me onde os traumas mentem, numa patogenia escaneada ou nas sombras dos meus pecados? Sem dúvida, na minha opinião, o ponto alto do cd.

Outros destaques de IRM são as faixas cantadas em francês, como a regravação de "Le chat du café des artistes" original de Jean Pierre Ferland, "Voyage" e "La Collectionneuse", que apresentam uma levada bem ao estilo de musica romântica francesa. Para quem não sabe, Gainsbourg é filha da atriz Jane Birkin com o famoso compositor francês Serge Gainsbourg, que compôs uma das baladas mais famosas do século XX "je t'aime, moi non plus".

O cd é ótimo e já entra como um dos favoritos ao melhor disco de rock de 2010!

Como Gainsbourg não é um nome muito conhecido no Brasil, musicalmente falando, vale a pena dar uma olhada, assim como na obra do Beck, que para quem não conhece, vale pesquisar as musicas "Loser" e a regravação de "Everybody gotta learn sometimes", trilha sonora do filme "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança" do também grandioso Michel Gondry, que por sinal, produziu ótimos clipes da Bjork!!!!.

Segue abaixo o site oficial da Charlotte Gainsbourg onde trechos de todas as faixas estão disponibilizados, contendo ainda versão completa de IRM.



http://www.charlottegainsbourg.com/

17 de fevereiro de 2010

Pomplamoose

Essa dica veio via blog Cambaleando. Nataly Dawn e Jack Conte de São Francisco (Califórnia) formam a banda Pomplamoose. Delicadeza e musicalidade são as principais características da banda(a beleza de Nataly Dawn também merece nota). Pelas visualizações do Youtube já podemos considerar um novo fenômeno da internet e aguardar pelo "estouro" no "mundo real" .Além de belos e surpreendentes covers( Quem diria que Single Ladies seria suportável?), suas músicas originais também valem um ouvida.

Os vídeos deles são bem interessantes. Utilizam um recurso chamado de VideoSong, ou seja, tudo o que você ouve é o que você vê. Todos os sons das músicas são criados por eles e mostrados no vídeo. É como um making of de como se constrói uma música. Esse recurso foi recentemente utilizado também pelo Radiohead.






10 de fevereiro de 2010

Marcelo Camelo

Taí uma grande verdade...

"Das marcas da pós-pós-modernidade (pô-pôs-modernidade), a mais imbecil é a retomada de exacerbado romantismo por parte dos homens-donzela. Ficam aí, com os olhos cheios dágua, apaixonados por todas e por nenhuma, traçando estratégias esquizofrênicas de conquista e anotando tópicos para a proxima D.R. Ah, que tristeza doce! Num mundo de mulheres pragmáticas e pós femininas, verdadeiras profissionais do afeto, os Heróis do Tango do Baixo Méier são relíquias arqueológicas sem qualquer utilidade."
( Trecho da crônica A arte perdida de receber cartas de amor de João Paulo Cuenca, publicado na Megazine do O Globo de 09/02/2010).


A crônica completa aqui

7 de fevereiro de 2010

Mais do mesmo, de volta de novo

Voltei, voltamos, e voltamos diferentes. Mas não se preocupem, o velho tema “tudo muda para continuar como está”, já largamente usado nesta blog, serve também para essa ocasião. Mudamos, inclusive mudamos para poder continuar. Além de pequenos detalhes estéticos, mudamos a orientação do blog. Ao criarmos o Ecos Dissonantes, pretendíamos criticar, polemizar e principalmente pensar uma versão diferente para os fatos que eram noticiados na imprensa tradicional.Com o tempo, esse exercício de critica foi nos enfastiando, fomos perdendo o tesão com a atual pasmaceira política tanto nacional quanto internacional. Decidimos então nos dedicarmos mais a nossa vocação. Decidimos oficializar o que na verdade já víamos fazendo, vamos priorizar os assuntos da cultura, da arte. A intenção é exprimir nossas opiniões e também compartilhar nossos gostos e influências.

Por exemplo, não falaríamos da ridícula reação de setores da nossa sociedade brasileira, contra o Plano Nacional de Direitos Humanos, que dentre outras coisas, previa a descriminalização (é diferente de legalização minha gente!) do aborto, a retirada de símbolos religiosos (crucifixos, imagens santas e etc) de organismos oficiais da República Brasileira, como o Senado e o Supremo Tribunal de Justiça, afinal o Estado não é laico?E também não comentaríamos o que se chamou de “atentado contra a democracia brasileira”, que era a proposta de abrir os arquivos da ditadura militar, e investigar os possíveis casos de tortura. Acreditam os críticos dessa medida, que duas ditaduras em menos de 40 anos, que utilizavam a tortura como pratica de Estado, nada mais foi do que a defesa da democracia. Pra que comentar isso não é?

Não falaríamos também do caos do transporte público no Rio de Janeiro, da incompetência das autoridades em resolver os problemas e da curiosa questão que a Supervia não tem um dono, mas sim um grupo de acionários que não dão as caras. Alías o atual presidente da ALERJ , Jorge Picciani já mandou avisar que vai barrar qualquer tentativa de abertura de uma CPI dos transportes, pois segundo ele isso prejudicaria a imagem no Rio de Janeiro, no que diz respeito as Olimpíadas de 2016. Pra que comentar isso não é?

Fiquemos então com a cultura, lugar onde as coisas parecem ter mais sentido. E primeiro gostaria de lamentar a morte nesse inicio do ano de dois gigantes das artes. Erich Rhomer (1920-2010), um dos gênios do cinema, um dos grandes nomes da Nouvelle Vague, um mestre dos diálogos. Quem também deixou esse mundo foi Jerome David Salinger (1919-2010), autor do clássico livro, O Apanhador no Campo de Centeio, que colocou a figura do adolescente e seus dramas pela primeira vez como protagonista em uma história. Descortinando a nova configuração social do mundo naquele pós-guerra. Salinger é o autor mais influente do mundo desde então.