18 de março de 2009

A Geração pop e o drama do envelhecimento

"Privado da memória, o homem torna-se prisioneiro de uma existência ilusória; ao ficar à margem do tempo, ele é incapaz de compreender os elos que o ligam ao mundo exterior - em outras palavras, vê-se condenado à loucura." (Andrei Tarkovski- Esculpir o Tempo)


Em 2004, Sir Paul McCartney lançou "Chaos and Creation in the Backyard", sem dúvida, o melhor álbum de sua carreira solo, e atrevo-me a dizer, melhor do que alguns dos primeiros discos dos Beatles, como por exemplo o 'For Sale". Neste disco, toda genialidade de Paul se faz presente nas 13 faixas e o essencial é que soa atual sem ter nada de inovador, ou seja, é um disco carregado de identidade que soa como um disco dos Beatles. Paul fez um disco brilhante sendo quem ele é, ou seja, um senhor de mais de sessenta anos, que produziu uma obra genial ao longo de sua carreira e que por ser tão verdadeira, tornou-se atemporal.

Porém, a minha geração, que cresceu nos anos oitenta e noventa, a chamada "geração pop" sofre com o problema do envelhecimento. Os ícones da geração pop são evidentes: Madonna e Michael Jackson. E o que há em comum entre eles? Ambos não conseguem realmente aceitar o fato de que envelheceram. Madonna vive atrás de plásticas. Tem pra lá dos quarenta e se comporta como uma garota de 18. Ela tem tudo no palco, menos maturidade. Será que a rainha do pop conseguiria em 2020 lançar um álbum inédito, com sonoridade contemporânea, porém soando como Like a Virgin? Impossível.

A falta de identidade em Madonna é evidente, pois sua música não é substancial, porque não pode assumir uma identidade fixa, não pode assumir uma identidade de um ser no tempo, que envelhece, morre e apodrece! Madonna tem que estar sempre fugindo da realidade, inovando continuamente para tentar burlar um monstro invencível...o tempo! Basta ouvir a coletânea "Imaculate" nos dias de hoje e perceber o quão obsoleto são os sintetizadores e a sua estética musical. No show da maracanã, ela teve que mudar todos os arranjos das músicas antigas para torna-las mais palatáveis ao público. Falta identidade e falta memória.Madonna é a metáfora da minha geração. Uma geração que não sabe morrer porque não é ensinada a envelhecer.

Michael Jackson virou um monstro, um personagem do Planeta dos Macacos.Enlouqueceu na paranóia da eterna juventude e foi a bancarrota com a sua Terra do Nunca.Ambos representam a ostentação do capitalismo na sua fase hiperreal, do claustro no presente perpétuo, o espetáculo pelo espetáculo que não pode envelhecer...A verdadeira sociedade do simulacro. "Eles( MJ e Madonna) somos nós!" Pessoas que perderam o trem da história.O homem contemporâneo vive para o hoje, no hedonismo radical do consumo, sem memória afetiva e sem planos auspiciosos para o futuro.

Colecionadores de sensações.A morte não faz sentido para nós que compramos o selo da eterna juventude, porém, o sétimo selo quando aberto....Às vezes me pego pensando como a minha geração que hoje tem quase trinta anos se comportará quando tiver chegando perto da velhice?

O século XXI com certeza será da biotecnologia, da neurociência, e de todos os ramos que pesquisam formas de tornar os humanos super-humanos. Viveremos mais, seremos mais jovens fisicamente e mentalmente, porém, continuaremos sendo seres biológicos que tem um tempo de vida limitado e chegaremos esticados na velhice sem saber o que fazer com tudo isso.Entra em cena mais uma ferida narcísea para nós humanos, fracos e mortais. Além de não estarmos no centro do mundo, de sermos frutos de uma evolução animal tendo o macaco como ancestral e de nosso ego não reinar nem mesmo na sua própria casa, agora teremos que lidar com uma ciência que tudo explica e para pessoas que não sabem envelhecer demonstra que não somos nada além de cadeias de carbono, moléculas, células, átomos, etc...Eis que a indiferença pós-moderna encontra seu maior vilão: A indiferença do tempo!

Para não perder o costume e ilustrar o post: Faltam 2 dias

14 comentários:

Anônimo disse...

modéstia a parte: ficou bom pra caralho

Thiago Penna disse...

realmente modéstia nenhuma...escreveu o artigo e foi o primeiro a comentar se elogiando...


"She lives with a broken man
A cracked polystyrene man
Who just crumbles and burns
He used to do surgery
For girls in the eighties
But gravity always wins"

Anônimo disse...

Você foi o prmeiro que falou o que penso. O chaos é melhor que o "For Sale"..mas é só!

Anônimo disse...

Não concordo....as pessoas tem que mudar..ou entende a era que vc vive ou vai ouvir somente Edith Piaf!

Thiago Penna disse...

pelo que eu entendi, o que o autor do artigo disse exatmente é que astros do pop, como madonna e MJ, não mudam, querem ser eternamente jovens, e isso é um sintoma da sociedade contemporanea. A música deles, acabam ficando velhas, porque ficam datadas ao contrário das do Paulque sempre se renova e da Piaf que são imortais.

PS: Pra ouvir merda de Hoje só porque é de Hoje, eu prefiro Piaf

Saqueadores de Vento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

"Isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"Essas palavras do Leminsk acho que são pertinentes para analisar,embora ele tenha falado em um outro contexto,com uma outra visão.A questão hoje,é que ,é que é que ...o que a gente é?O que a gente quer ser?A indeterminação,o ser isso hoje,e ser amanhã o inverso e depois o aquilo.A insatisfação plena,as diferentes roupagens.O que a gente quer ser hoje,vai nos levar além sim,vai nos a uma insatisfação do que somos e nos levar pra uma outra coisa que não mais seremos depois de amanhã.Hoje somos putas,amanhã CABAÇO!

Saqueadores de Vento disse...

O que eu quis dizer é : vc pode ser heterossexual e ser feliz. vc pode ser gay e ser feliz. vc pode ser bissexual e ser feliz. mas o fato de vc ser bissexual não te faz mais feliz em relação a um heterossexual por causa da quantidade. Vc não é feliz só pq num mercado as prateleiras estão abundantes!!!a musica hj muda tanto que perde qualquer conteúdo substancial....o que vale hj é a quantidade e não a qualidade...a mudança pela mudança não é sinal de virtude...até pq madonna não é vanguarda em nada, ela se aproveita de recursos que dispõe para flertar com o que há de avançado na musica eletrônica

Anônimo disse...

fora que vivemos numa sociedade da abundância de informação...que as vezes peca pelo excesso...e não informa porra nenhuma!!!

Anônimo disse...

Quando nosssa geração envelhecer,vai ter mais 100 anos,100 anos de solidão.

Anônimo disse...

perfeito esse comentario sharon!

Anônimo disse...

é..o thom yorke não parece feliz com amplas possibilidades de consumo!!!mas acho que o melhor clipe para servir de metáfora é "No Surprises"

Thiago Penna disse...

o problema não é o excesso de informação, e sim a falta de formação.

Sharon meu querido...sim hj, somos todos putas...putas puras..

Porra...o que esse clipe critica não são as amplas ofertas de consumo, e sim a mercantilizaçao da vida...todas as mercadorias são iguais, so mudam as cores, somos todos mercadorias...ele ta dentro do carrinho de compras oras !!!!


No surprises, fala de rotina, de uma vida tediosa, imutável...Fake plastic combina melhor com o artigo, pq critica inclusive a juventude eterna!!!

Anônimo disse...

O clipe é sensacional.