Algumas músicas depois veio o segundo grande momento do show. Ouve-se a introdução de Metal Heart, sua composição mais celebrada. É sem dúvida sua música mais doida, Cat se convence e tenta nos convencer, de que não adianta, pois nos sofredores costumeiros estaremos sempre condenados ao fracasso, a insignificância, pois nunca nada bastará. Ela e nós somos anjos caídos, que entendemos a peso que pode ser o fato de simplesmente viver.
Metal Heart é a primeira de uma sequencia antológica, em seguida vem Sea of love, a mais simples e bela balada de amor que conheço. A vontade é de chorar, mas Cat não deixa, ela me hipnotiza, olha nos meus olhos, estamos os dois e todo o circo com os olhos encharcados. Ela estende as mãos e todos nós embarcamos na onda mágica que toma conta do Circo Voador. Logo em seguida vem a animada e swingada The Greatest, um breve sopro de ar em meio a tanta emoção e sofrimento. As músicas seguem, lentamente, uma a uma, a plateia já está ganha, sempre esteve, a catarse por fim termina com uma versão curta de Angelitos Negros e I´Dont Blame You. Cat se despede, agradece, distribui flores brancas para a platéia perfumando o ambiente e como sempre se desculpa.
Desculpa talvez por ter nos expostos a um canto tormentoso, a lamentos íntimos e pessoais. Mas não nos importamos, pois ao fim, todos temos a certeza de que poucos artistas são tao verdadeiros quanto Cat Power. Ao fim todos percebemos que aquelas horas ali não serão facilmente descartadas, agora existe uma especie de permanência, onde a voz rouca de Chan Marshall sussurrará em nossos ouvidos por algum tempo e sua imagem , uma gata tímida e arisca ao mesmo tempo, contorcida ali no canto do palco povoará nossas memorias nos lembrando das horas mágicas compartilhadas numa agradável e inesquecível noite de sexta-feira.