1 de dezembro de 2008

Diário de Viagem 2 - Sob o Céu de Bucareste


Nos dias de hoje, ir para um outro país sem ter tudo planejado nos mínimos detalhes é quase impensável. As pessoas se preparam com meses de antecedência, coletando informação de tudo que é possível saber, para tentar reduzir as possibilidades de erro à quase zero. Você seria classificado de minimamente irresponsável se tentasse o contrário. Pois bem, no dia 25 de maio de 2007, eu e minha companheira de viagem estávamos sentados na poltrona de um avião, vendo lá do alto as luzes disformes de uma Bucareste completamente estranha para nós. Pois não era apenas falta de alguns detalhes que nós não tínhamos, na verdade nós não tínhamos nada. Primeiramente, não sabíamos se conseguiríamos trocar euros pela moeda local, que não fazíamos idéia qual era. Segundo, não sabia aonde passaríamos a noite, pois não fizemos reservas e nem pesquisamos muitas opções. Na verdade, tínhamos apenas um nome em mente, uma tal de Vila 11, mas não sabíamos a localização, se tinha vaga, etc...Em terceiro lugar, não sabíamos nem sequer se nos deixariam entrar no país, pois não sabíamos nada, não tínhamos nada nos bolsos.



Não sabíamos nem se precisava de visto. Qualquer pergunta sobre nossas intenções na Romênia não teriam respostas satisfatórias! Para tornar nossa viagem mais complicada, não sabíamos o que era a Romênia. Não tínhamos visto fotos, não sabíamos o que tinha de interessante lá. Claro, alguma coisa obviamente nós sabíamos. Mas dá pra contar nos dedos. Vejamos. Sabíamos que durante muito tempo foi governada a mão de ferro pelo sanguinário ditador Ceausescu, que foi assassinado em 91 culminando no fim do regime comunista romeno paralelamente ao colapso da URSS. Sabia também que a Transilvânia era a terra do Conde Drácula, que influenciou a famosa obra literária de Stoker. E ponto. Ou melhor, eu sabia, que Hagi, Popescu, Dumitrescu, Raduciou, Ilie, Lupescu eram jogadores da seleção de futebol de 94 que acabou com a Argentina na Copa do Mundo dos EUA e que o Dínamo Bucareste era o time da capital. Fora isso, mais nada.
Pois bem, quando o piloto anunciou que era hora de apertar o cinto, pois estávamos nos preparando para pousar em Bucareste, nos olhamos e um sentimento de vazio absoluto, de medo do desconhecido, resumido em uma palavra "ferrou" tomou conta de nós. O aeroporto era pequeno, no vôo, apenas romenos. Eu ficava o tempo inteiro me perguntando o que eles iriam pensar se soubessem que nesse vôo tinham dois brasileiros completamente perdidos chegando no seu país.




E é a partir do momento em que descemos em solo romeno, que o surrealismo passa a imperar como gênero narrativo de nossa viagem. Ou talvez um realismo fantástico a lá Garcia Márquez.
Desembarcamos quando já era noite em Bucareste, a temperatura estava elevada, pois já estava começando o verão. Quando chegamos no controle de fronteiras, a famosa alfândega, meu estômago embrulhou de vez. Eu só pensava: "Vão nos mandar embora, não vão nos deixar passar!" Quando faltava apenas uma pessoa para minha vez, minha mão tremia. O controlador falou numa língua impronunciável que era a minha vez. Caminhei, passaporte na mão. Lentamente lhe entreguei o "verdinho", ele olhou, franziu as sobrancelhas, me olhou, olhou a foto, voltou a me olhar e de repente disse num sotaque perfeito: Brasileiro? Legal pode passar, bem vindo à Romênia! Eu não tive reação. Fiquei pasmo! Deu-me vontade de abraça-lo! Pensei comigo mesmo, “bom, entrar nós entramos e o cara ainda por cima é brasileiro ou morou no Brasil! Tive curiosidade de perguntar, mas para quê prolongar quando a situação já lhe está pra lá de favorável? Segui reto, esperei minha companheira e partimos rumo ao segundo desafio”.
Segundo passo. Trocar o dinheiro. No aeroporto havia apenas uma casa de câmbio. Uma senhora muito simpática nos atendeu. Não pediu nada, não perguntou nada. Apenas dei os euros, ela me deu os LEU (se pronuncia "LEI"). Segundo obstáculo ultrapassado. Estava mole. Próximo passo: Arrumar um táxi e ir para esse tal de Vila 11. Ah! Já ia esquecendo, outra coisa que eu sabia, ou melhor, me disseram, era que taxista na Romênia era igual ao Brasil, adeptos da malandragem! Entramos no saguão de desembarque e logo uma enxurrada de taxistas veio em cima da gente, todos falando em romeno, achando que éramos nativos. Até que um, mais isolado, perguntou numa voz calma se hablávamos español? Si si, um poquito. Fomos com ele. Perguntamos se conhecia o Vila 11. Ele disse que sim. Fomos conversando ao longo do caminho, ele nos mostrou alguns pontos da cidade quando passamos pelo centro. Bucareste nos pareceu a princípio uma cidade grande, arborizada, com um Arco do Triunfo igual ao de Paris. Em pouco tempo percebi que estávamos indo para uma área mais popular da cidade. De repente me vejo num lugar muito parecido com o Andaraí (aonde moro no rio de janeiro). Ruas escuras, casas antigas, ninguém na rua.





O táxi pára e o motorista diz: Hasta pruento! Seu espanhol perfeito era porque havia morado em Barcelona por 15 anos. Quando vi, estava de frente a uma casa muito antiga e em cima estava escrito, Vila 11! O motorista nos ajudou com a mala, entrou conosco e fez a reserva para nós, o que nos facilitou muito. A corrida deu baratinha, algo em torno de três euros. Deixamos uma gorjeta e subimos para o quarto. Vila 11 era uma casa-hostel, de família judaica, muito simples, pouca decoração, duas camas, um ventilador portátil, um banheiro minúsculo, mas na altura do campeonato, cansados, mas vivos, tudo o que queríamos era tomar banho e dormir, deixando qualquer decisão para o dia seguinte. Porém, a fome estava intensa, tivemos que sair para comprar comida. Andamos pelas ruas escuras do Andaraí Romeno até encontrarmos um posto. Compramos algumas coisas para comer, refrigerante e voltamos à Vila 11. (Continua na próxima semana!)

ps: Andaraí é um bairro da zona norte do Rio de Janeiro, que outrora já teve seus dias de glória e hoje convive com o abandono.

10 comentários:

Sacripanta disse...

O leste europeu inteiro é envolto numa bruma de mistério para mim. Talvez por isso me fascine tanto... Se eu tivesse que escolher entre visitar França e Inglaterra ou visitar Romênia e República Tcheca, não pestanejaria em escolher a última opção.

Mas se tivesse que escolher entre a Grécia e o leste europeu... ah, aí eu ficaria com o coração na mão!

Anônimo disse...

Legal o post!!
Imagino que o bairro seja em frente a estação de trem de bucareste...é uma área humilde msm!!!
Quando postar mais divulga na comunidade da Romênia

Anônimo disse...

Cara, para mim tb..mas sempre me fascinou..desde a copa de 90 quando eu sonhei que eu era da Romênia e meu primo era da Coreia, e nós jogávamos um contra o outro!!!
Inclusive, estou rascunhando um livro sobre essa viagem O título provisório é "Sob o Triste Céu de Bucareste! Se quiser...depois te conto os detalhes meu car Sacripantas!!!

Anônimo disse...

Ae, como vc fez para chegar até a romênia?

Anônimo disse...

Cara, eu morava em Portugal..peguei um avião até barcelona, e de barcelona até bucareste..40 euros a passagem!!!de lá fui de trem até a hunria, retornei a bucareste, e fiz de avião o msm percurso da ida!

Anônimo disse...

Ah tá tranquilo! vc ja morava lá nas europa!
pq se não ia sair cara a vera!!´po me amarro nesses lances de leste europeu!!! sou doido para ir pra rep. tcheca, bulgaria, esses picos aí!!!
valeu

Anônimo disse...

Parabéns ao outro sauqeador pelas otimas edições!

Anônimo disse...

Você é maluco!!!
Como consegue ser assim!!!
Tinha q ser dessa família louca!!!

Sacripanta disse...

Eu tenho umas lacunas literárias quase imperdoáveis. Eu nunca li, por exemplo, um livro de viagem, e deve haver um montão de bons títulos por aí... Acho que o mais próximo disso que cheguei foi um ou dois capítulos do Tristes Trópicos, rs...

Acharia o máximo folhear o seu, caro Saqueador!

Anônimo disse...

Imagino como sejam os filmes porn na romania.as gajas com as conas peludissimas, eu saíria cheio de pentelhos na boca.