7 de dezembro de 2008

Brasil: Um país de malas


O campeonato brasileiro de futebol deste ano, que termina no dia de hoje, não foi um primor de qualidade técnica. Porém não podemos dizer que foi um campeonato entediante. Em sua última rodada, dois times lutam pelo titulo, e quatro times lutam para não serem rebaixados. Emoção não faltou durante todo o ano. Parte da emoção vem do sistema de pontos corridos (quem fizer mais pontos ganha), há muito tempo introduzido na Europa e somente há alguns anos no Brasil.

Os críticos dizem que falta o chame e a emoção de uma final, que este tipo de campeonato proporciona a oportunidade um time disparar na liderança e tornar o resto do campeonato uma disputa sem validade alguma. Porém os defensores argumentam, que a fórmula de disputa é mais justa, pois o time que fizer mais pontos vence, e a mais adequada, pois obriga os clubes a ser organizarem e se planejarem, questão importante, pois impede administrações irresponsáveis e também aumenta o poder de barganha dos clubes brasileiros nas negociações dos nossos jovens talentos para o futebol europeu. Pois bem. Meu interesse não é decidir qual a melhor fórmula, e sim analisar um fato.

No sistema atual, todo jogo é fundamental, o titulo pode ser decidido na primeira rodada, ou naquela derrota em casa jogando contra a lanterna. Com a proximidade do fim do campeonato algumas posições de consolidam, alguns times não possuem chances de chegar ao titulo e não correm riscos contra o rebaixamento. È neste ponto que me causa espanto como a nossa ética (ou falta) está cada vez mais dilatada. Como já disse, todos os resultados, direta ou indiretamente são importantes. Como aceitar que seu time entre com o time reserva só porque nada mais está em jogo? Com o Mineirão lotado com seus fanáticos torcedores o Atlético Mineiro pouco fez para sair do empate de zero a zero com o Santos. Foi vaiado pela própria torcida. O Botafogo, na reta final do campeonato, acumula derrotas seguidas, seus jogadores demonstram total desinteresse, e eu pergunto como fica a honra deste clube outrora conhecido como o Glorioso?

Ser jogador de futebol é o sonho de grande parte dos brasileiros. Jogar futebol é a profissão e obrigação dos jogadores. Quando você veste a camisa de um clube você não apenas mexe com a emoção de milhares de pessoas, como você possui uma responsabilidade histórica com um uniforme que com certeza está carregado de história. Jogo é jogo, não importa se vale ou não vale o campeonato. Perder sempre será uma decepção.

Este campeonato possui uma grande qualidade. Caso você ao longo do campeonato não faça a sua parte conquistando os pontos que necessita seu destino inevitavelmente estará nas mãos dos outros times. E como se não bastasse a falta de respeito com o torcedor, com esta profusão de times mistos, jogadores desmotivados e etc, tristemente assistimos aos episódios das malas. A preta e a branca. A mala preta seria uma compensação financeira dada a um time que entregasse o jogo, que perdesse. A mala branca seria um incentivo para que um determinado time ganhasse.

Em comum as duas têm a definição de serem um ato de corrupção. As rodadas finais do campeonato brasileiro têm sido marcadas por uma boataria nunca antes vista, malas voando por todo o território nacional. Esta prática sempre foi realizada por aqui, não só no futebol, na política, não só temos malas, como também dinheiro na cueca. Porém a formula de disputa jogou luz sobre a escuridão, são diversos jogos com interesses conflitantes e a falta de ética transborda também sobre esta paixão nacional. Então eu pergunto. O quanto nossa ética é maleável? Você concordaria que seu time usasse o recurso da mala para definir seu destino? Você aceitaria que seu time recebesse dinheiro para definir um resultado?

3 comentários:

Anônimo disse...

Deixo uma pergunta no ar:
O futebol é tão popular no mundo inteiro justamente por ser como a vida, que não é um filme Hollywoodiano e obviamente não tem finais felizes, e nem manipulações de espaço e tempo como em outros esportes, consequentemente não é coerente e muito menos racional. Pontos corridos é mais justo e mais racional, porém, seria a vida justa e racional? A magia do futebol não estaria justamente na possibilidade contingencial do acaso, do pré racional, e do confronto do bem contra o mal numa final emocionante num morumbi ou maracanã lotado?

Anônimo disse...

Ops...esqueci de assinar

ps: gosto muito do seu blog!

Anônimo disse...

Adorei seu comentario caro anônimo

Mas pense bem, no sistema de pontos corridos também tem emoção, todo jogo é uma final...racionalidade não existe no futebol mesmo, mas nem por isso devemos pregar a zona que era antigamente.