Com o ingresso mais caro, todos procuram uma carteira de estudante, com mais carteiras, mas caros ficam os ingressos, e chegamos a situação de o ingresso para um show, por exemplo, custar o dobro do preço real, e os empresários afirmarem na cara de pau que o preço da meia-entrada na verdade é o preço do ingresso inteiro. A verdadeira questão que se esconde sob o debate se deve ou não ter meia-entrada, se se deve limitar ou impor cotas é a questão do acesso aa cultura. A meia -entrada serve para proporcionar ao estudante e ao idoso não nos esqueçamos deles, um melhor e mais diversificado acesso ao que é produzido culturalmente no Brasil. Cultura (arte), é educação. Na tão propalada sociedade da informação, o acesso mais democrático a cultura é fundamental para o desenvolvimento e manutenção da própria democracia.
Para mim, não há dúvida. A meia-entrada inflaciona os preços dos espetáculos musicais, peças de teatro e sessões de cinema. E também não há duvidas, que o empresariado, usa a meia-entrada como álibi para ganhar (ainda) mais. Afinal, o preço dobrou, nada eles perderam. Perdas sim houve nas Companhias de Teatro que contam com a bilheteria para manter um espetáculo. Perdas existem nos cinemas onde o preço do ingresso é um dos fatores (e não o único) para a dramática falta de público. Uma casa de espetáculo patrocinada por uma poderosa empresa de telefonia, ou mesmo festival cujo nome é de uma das maiores empresas da internet creio eu não perdeu nada com a meia-entrada.
O verdadeiro perdedor é o cidadão comum, não estudante, maioria neste país, que devido ao elevado custo do ingresso não pode assistir a uma peça de teatro, e prefere esperar para ver aquele filme interessante no DVD. Muitas vezes pirata, devido ao alto preço do produto (também culpam a pirataria por isso).
A solução é voltar a ter um único emissor das carteiras, melhor inclusive que seja o ministério da educação, através das secretarias municipais, por exemplo. A UNE como instituição estudantil possui interesses políticos e não seria justo com os estudantes que não concordam com suas diretrizes financiar a suas ações. A adoção de cotas durante o fim de semana também é uma boa solução, mas com ressalvas, quem fiscalizara? Como saberemos se as cotas realmente foram preenchidas?
A regulamentação da meia-entrada serve principalmente para acabar com o álibi dos empresários, sem meia, quem eles irão culpar pelos altos preços?
Isto me lembra o momento que o Radiohead lançou o In Rainbows na internet. O fã poderia pagar quanto quisesse, inclusive pegar de graça.O mais importante desta atitude para mim foi por em xeque a constituição do preço de um produto, principalmente um produto artístico. Diga-me você qual o valor justo do cinema? , qual o valor justo do teatro? Quanto você pagaria para ver uma peça do Miguel Falabella? E um show do Belo?
Este artigo foi o que mais deu trabalho neste blog. Foram duas semanas de discussões e leituras. Muitas questões ficaram de fora, e quem quiser levanta-las, fiquem à vontade para comentar. È um tema polêmico, mas não poderíamos nos furtar deste debate.
Abaixo, o projeto da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), aprovado na Comissão de Educação do Senado, que está em tramite no Congresso Nacional
A meia entrada (50% do valor do ingresso) fica assegurada para estudantes e idosos (a partir de 60 anos) em salas de cinemas, cineclubes, teatros, museus, centros culturais, parques e reservas naturais, espetáculos musicais, circenses, eventos educativos, esportivos, de lazer e entretenimento.
. Impõe cota de 40% de meia entrada por espetáculo. Quando a cota for atingida, estudantes e idosos que estiverem na fila pagam entrada cheia.
. Restringe a emissão da carteira de estudante, que passa a ser controlada pelo Conselho Nacional de Fiscalização, Controle e Regulamentação da Meia Entrada e da Identificação Estudantil, vinculada à Secretaria Geral da Presidência da República.
. O conselho, que terá composição paritária, vai definir a quem competirá a impressão, provavelmente Casa da Moeda, e a permissão para emitir, provavelmente a UNE e a UBES, como no passado.
. Ficam de fora do benefício os cursinhos de inglês e pré-vestibular, os cursos alternativos, como astrologia ou eubiose e os de duração efêmera.
. A meia-entrada também não se aplica a camarotes, áreas e cadeiras especiais.