1 de junho de 2009

Patota da Pá Virada e da Noite Furada

"Todos aqui se conhecem, nem que seja pelas suas quitandas virtuais, o que dá ao salão um ar opressivo de festa fechada: este é um ambiente de piadas internas e microcelebridades, apenas conhecidos por outras microcelebridades. Músicos incógnitos e seus futuros biógrafos, descolados gênios inéditos da raça. [...] Ali os poucos eleitos que sabem cantar as letras da canção desconhecida levantam as nucas como pavões obscuros e empertigados: Além das letras dubladas em altos brados, viradas de bateria e solos de guitarra são reproduzidos mimeticamente pela intelligentsia local em instrumentos imaginários, construídos por gestos no ar num ensaiado ritual palaciano. Destacam-se dos outros os espécimes que melhor conhecem o enigmático repertorio selecionado de acordo com os humores do discotecário, essa idiossincrática persona de entremilênios.Os especialistas ganham a atenção da neurastênica trupe de fêmeas locais (nucas a mostra, blusas listradas botas de vinil, ideogramas tatuados) e a inveja dos colegas menos sintonizados com a cena de outras cortes subterrâneas como esta ao redor do planeta."(João Paulo Cuenca - O Dia Matroianni)


Existem dias bons e dias ruins. Existem noites boas e noites péssimas. O problema é quando até os sistemas peritos falham. Aquela velha certeza, a carta na manga, o lugar seguro, tudo se liquefaz na sua cara ainda bêbada de cerveja. A casa da Matriz, mas precisamente a festa Paradiso de sábado à noite, a vanguarda do indie-pop como eles gostam de se rotular, sempre foi uma garantia para mim. Lugar agradável, de boa musica, gente bacana. Muito pedantismo é claro, modernetenes se achando a Greta Garbo on the nigh club. Mas ainda sim era um lugar que eu chamava de meu, uma espécie de habitat natural. Lá eu me sentia seguro, confortável.

Porém sempre tem um dia que a casa cai. Depois de um bom tempo sem freqüenta-la, resolvi com mais dois amigos reviver os velhos (não tão velhos assim) tempos. Um porre básico antes de entrar, uma noite pra lá de agradável com temperatura amena, um friozinho de leve que já faz a fauna local inacreditavelmente tirar do armário o cachecol, lenço palestino ou sei lá o que, tudo para se sentir no inverno parisiense. Mas nada que tirasse o nosso humor, muito pelo contrario, ironia nunca nos faltou. A fila de praxe na porta e entramos empolgados para uma noite nostálgica. Tudo parece o mesmo, pra manter a tradição vou ao banheiro esvaziar o tanque e me impressiono com a reforma que fizeram (já era um mal sinal?) . Aprecio a psicodélica decoração da pista Dois, onde rola uma festa que vem causando burburinho na turminha indie. De repente um mal estar começa a nos tomar. Donde saíram estas pessoas? Pergunto ao meu amigo co-escritor deste blog: Hoje é mesmo sábado? Homens (muitos!) sarados, meninas superproduzidas. Tipo periguete mesmo. Um “tipo” de público que nunca tinha visto por aquelas bandas. Desço para a pista e começo a ficar sufocado com tanto músculo a minha volta, estranhamente todos com long necks na mão. Eles bebem Quilmes (?) e Stella Artois. A musica está estranha. Mais uma vez subo, sou interpelado por um amigo. Vamos embora, ele diz, isto esta muito esquisito. Peço calma, vamos pra outra pista que lá deve estar melhor. A decoração psicodélica e a musica me relaxam um pouco, tento dançar, mas imediatamente me vejo de frente pra uma moça de vestido branco. Me confronto com o horror. Será um pesadelo? Ela esta segurando uma taça de vinho rose? Será que estou em algum episodio de Para Além da imaginação? Estou na Baronetti? Socorro!!!! Quero minha matriz devolta!!

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