
Domingo passado, debaixo de uma chuva fina que parecia anunciar metaforicamente algo de ruim e triste para o fim do dia, almocei com meu pai num restaurante no Alto da Boa Vista. Durante a conversa, prestei atenção com muito entusiasmo nos seus relatos sobre sua sensação misturada de perturbação e fantasia, oriunda do desconhecimento que ele tinha na infância, quando ouvia pelo radio de ondas curtas, a transmissão de jogos de futebol entre a nossa seleção e times do estrangeiro. Dentre muitos exemplos, a seleção húngara de 54, lideradas por Puskas foi a que mais lhe marcou, pois como ele disse, nunca tinha visto fotos da Hungria, não sabia o que era Budapeste, que língua eles falavam, ou como eram os traços físicos de um húngaro. Tudo tinha que ser trabalhado pela imaginação, com uma carga elevada de fantasia. O que a Hungria, uma das maiores seleções de todos os tempos, representava para a imaginação de uma criança de nove anos era a de um enorme bicho-papão de camisas vermelhas.
Hoje, eu com 23 anos de idade, não só sei aonde é a Hungria, como sei também que posso em questão de minutos saber como foi à rodada do campeonato de futebol húngaro da segunda divisão, inclusive vendo os gols.
Quando falamos de viagem não estaríamos falando da mesma coisa? Milhões de turistas, doidos para consumir freneticamente os signos culturais mais importantes do mundo, viajam para lugares em que tudo, milimetricamente é planejado previamente, incluindo o uso do GPS, QUE INDICA PARA VOCÊ TUDO DE TUDO.

As imagens virtuais são digeridas todos os dias, até fotos de banheiros de hotel são observados. Por isso viajar hoje não é uma experiência tão excitante, assim como a copa do mundo de futebol também não é. Claro, que o contato com o real concreto é ainda fantástico, afinal, uma coisa é ver o Coliseu em fotos ou em filmes, outra coisa é perambular solitariamente numa tarde de inverno por suas ruínas. Mas o choque se torna cada vez menor e tudo mais previsível.Querendo fugir disso, resolvi cruzar de trem dois países que eu nunca, até então, tinha visto nenhuma imagem, sabia pouquíssimas coisas, etc...
Quando estava morando em 2007 em Portugal, resolvi fazer uma loucura e cruzar de trem toda a Romênia chegando até Budapeste, que durante anos foi o bicho papão de camisas vermelhas para o meu pai. Não avisei para ninguém, para justamente ninguém saber onde estava, somente minha companheira de viagem e eu sabíamos dessa aventura. Começará aqui, o diário de viagem número 1, cuja primeira parada será Bucareste.

6 comentários:
Olá, sou de curitiba e gostei muito dessa idéia. Muito interessante. Continue escrevendo!
Cara, como você teve coragem?!!! A Romênia, dizem ser bonita, mas perigosa!! Estive perto de lá, cheguei até a Eslovaquia, mas não tive curiosidade de prosseguir até a romênia!!
Fala meu primo...curti esse blog. Só vc msm para se amarrar em ir pra esses lados sombrios do leste europeu. É isso aí...tb odeio Big Brother!!!
Carlos Rafael, estamos orgulhosos de ter um curitibano aqui no blog. continuaremos escrevendo, e vc por favor continue nos visitando.
Rodrigo, acompanhe as próximas postagens que vc vai confirmar o lado perigoso da Romênia.
Bruno, só o Guilherme mesmo para realmente gostar do sombrio do leste europeu..cada um com sua mania né..Big brother realmente (se pelo menos fosse como os europeus cheios de sacanagem !)é uma merda.
obrigado pelos comentários e voltem sempre.
Ae Anão...se não fosse minha internet não teria ido pra Romênia não hein?
Quero ver contar essa viagem pq até hj ao me disse como é q foi!!!
abraço
A viagem deve ter sido muito foda!!!!Agora, no inverno seria ainda mais na minha opinião!!!Tudo nevado, mó friaca no trem!!!
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