Podemos dizer que hoje, início de século XXI, o conceito de festa, entendido como fenômeno coletivo de comemoração e compartilhamento de experiências comuns, cuja finalidade é atingir a catarse coletiva, está seriamente ameaçada.
Cada vez mais, as pessoas assistem a seus espetáculos como espectadores frios e distantes, "mônadas" isoladas em suas ilhas digitais, preocupados em registrar através de suas câmeras e celulares cada vez mais modernos, cada detalhe do show, buscando mesmo que inconscientemente, a eternização do momento, porém, sem nunca atingir o clímax. É o que chamo de "condição de Nosferatu".
Afinal, o que representa a figura desse macabro, porém intrigante personagem, que no cinema nos foi mostrado em duas grandes filmagens, a primeira um clássico do expressionismo alemão de Murnau e a segunda, uma refilmagem de Herzog, com atuação magistral de Klaus Kisnski.
Nosferatu representa o tédio da imortalidade. Um vampiro condenado a viver as angústias de uma vida marcada pela falta de todas as perspectivas, nem mesmo a morte é tida como uma! Uma vida vazia, sem finalidades transcendentes. Uma vida guiada pelo simples viver e não pelo ideal de beleza do "viver bem".
Hoje tentamos através da biotecnologia e da tecnociência alcançarmos a tão sonhada imortalidade, ou pelo menos, o prolongamento máximo de nossa vida. Porém, extremamente individualistas como estamos, acabamos, assim como Nosferatu, vivendo por viver, viver mais e sempre mais porque simplesmente a vida não tem sentido e a morte muito menos! Afinal, o viver bem significa o compartilhamento coletivo de experiências comuns e ideais.
O rock n roll sempre foi um exemplo de busca pela catarse coletiva, impulsionada por uma série de contestações, seja no plano comportamental, estético, político, econômico, sexual e moral. O seu motor sempre foi alguma indignação. Ia-se num show de rock buscando atingir o clímax, compartilhando com os outros a potência e a fúria subversiva que a música proporcionava. Buscava-se encontrar no artista e na multidão de anônimos, os ecos para as suas angústias, raivas e amores. Buscava alguém que entendesse o que você sentia, pois também sentia o mesmo. Afinal, a vida não é dominada por um estado perene de algum sentimento, como uma eterna alegria. A indignação é o motor das transformações!
Os exemplos são muitos, desde os antológicos shows do Doors, uma espécie de ritual xamânico liderado por Jim Morrison, o ritmo contagiante dos Stones, o Woodstock com a guitarra mágica de Hendrix e a alma na voz de Joplin e o The Who quebrando tudo em seus shows. Depois vieram os espetáculos de Led Zeppelin e Pink Floyd. A música em si já era uma experiência coletiva, pois você comprava um vinil e reunia os amigos para escutá-lo pela primeira vez.
Veio o punk e o pós-punk e os shows lotados de pessoas munidas de sentimentos verdadeiros, proletários, filhos de proletários, desempregados, filhos da classe média sem futuro. The Kids aren´t all Right! As pessoas se odiavam para depois se amar. Veio o metal e o Hard rock e o bicho continuou pegando. O início dos anos 90 trouxe o Grunge e com ele a denúncia de que as crianças continuavam mal. Veio o Britrock, menos político, porém conservando o espírito e a alma do bom e velho rock n roll, ou seja, pessoas que amavam aquilo que escutavam!
Ontem, depois do show do Coldplay, minha banda favorita na atualidade, rodeado de pessoas ricas, brancas e bem vestidas, estando preso e apertado para dar conforto aos VIPs, percebi que o espírito do rock está enfraquecendo.
Hoje, vai-se a um show de rock tão blasé, quanto se vai a um shopping center comprar uma camisa!
Ninguém interage com ninguém e todos se preocupam em registrar isoladamente em suas "memórias artificiais" cada passo do artista no palco, matando com isso o que há de mais grandioso numa celebração que é a catarse oriunda do compartilhamento das mesmas experiências coletivas. Como esquecer do primeiro show de rock, dos primeiros festivais independentes, das primeiras “rodas”? Não é preciso máquina digital para me fazer lembrar desses momentos, assim como não é preciso máquina nenhuma para me fazer lembrar da primeira vez que entrei no Maracanã e vi impávido, 100 mil pessoas gritando!
O homem de hoje, refém incondicional das memórias artificiais, não percebe que enquanto maneja suas máquinas perde o momento natural da passagem do tempo e enfraquece sua memória natural, sua percepção do mundo real. Será que no futuro teremos memória natural?
No final, o show passou e não mudou a vida de ninguém. Todos voltaram calados para suas casas, ligaram seus computadores e disponibilizaram para o mundo inteiro seus vídeos e fotos.
Por fim, registramos tudo, cada detalhe, cada minuto e cada segundo do show em nossas memórias artificiais, porém, assim como um Nosferatu eternizado, estivemos o tempo todo, sozinhos, muito sozinhos!
Cada vez mais, as pessoas assistem a seus espetáculos como espectadores frios e distantes, "mônadas" isoladas em suas ilhas digitais, preocupados em registrar através de suas câmeras e celulares cada vez mais modernos, cada detalhe do show, buscando mesmo que inconscientemente, a eternização do momento, porém, sem nunca atingir o clímax. É o que chamo de "condição de Nosferatu".
Afinal, o que representa a figura desse macabro, porém intrigante personagem, que no cinema nos foi mostrado em duas grandes filmagens, a primeira um clássico do expressionismo alemão de Murnau e a segunda, uma refilmagem de Herzog, com atuação magistral de Klaus Kisnski.
Nosferatu representa o tédio da imortalidade. Um vampiro condenado a viver as angústias de uma vida marcada pela falta de todas as perspectivas, nem mesmo a morte é tida como uma! Uma vida vazia, sem finalidades transcendentes. Uma vida guiada pelo simples viver e não pelo ideal de beleza do "viver bem".
Hoje tentamos através da biotecnologia e da tecnociência alcançarmos a tão sonhada imortalidade, ou pelo menos, o prolongamento máximo de nossa vida. Porém, extremamente individualistas como estamos, acabamos, assim como Nosferatu, vivendo por viver, viver mais e sempre mais porque simplesmente a vida não tem sentido e a morte muito menos! Afinal, o viver bem significa o compartilhamento coletivo de experiências comuns e ideais.
O rock n roll sempre foi um exemplo de busca pela catarse coletiva, impulsionada por uma série de contestações, seja no plano comportamental, estético, político, econômico, sexual e moral. O seu motor sempre foi alguma indignação. Ia-se num show de rock buscando atingir o clímax, compartilhando com os outros a potência e a fúria subversiva que a música proporcionava. Buscava-se encontrar no artista e na multidão de anônimos, os ecos para as suas angústias, raivas e amores. Buscava alguém que entendesse o que você sentia, pois também sentia o mesmo. Afinal, a vida não é dominada por um estado perene de algum sentimento, como uma eterna alegria. A indignação é o motor das transformações!
Os exemplos são muitos, desde os antológicos shows do Doors, uma espécie de ritual xamânico liderado por Jim Morrison, o ritmo contagiante dos Stones, o Woodstock com a guitarra mágica de Hendrix e a alma na voz de Joplin e o The Who quebrando tudo em seus shows. Depois vieram os espetáculos de Led Zeppelin e Pink Floyd. A música em si já era uma experiência coletiva, pois você comprava um vinil e reunia os amigos para escutá-lo pela primeira vez.
Veio o punk e o pós-punk e os shows lotados de pessoas munidas de sentimentos verdadeiros, proletários, filhos de proletários, desempregados, filhos da classe média sem futuro. The Kids aren´t all Right! As pessoas se odiavam para depois se amar. Veio o metal e o Hard rock e o bicho continuou pegando. O início dos anos 90 trouxe o Grunge e com ele a denúncia de que as crianças continuavam mal. Veio o Britrock, menos político, porém conservando o espírito e a alma do bom e velho rock n roll, ou seja, pessoas que amavam aquilo que escutavam!
Ontem, depois do show do Coldplay, minha banda favorita na atualidade, rodeado de pessoas ricas, brancas e bem vestidas, estando preso e apertado para dar conforto aos VIPs, percebi que o espírito do rock está enfraquecendo.
Hoje, vai-se a um show de rock tão blasé, quanto se vai a um shopping center comprar uma camisa!
Ninguém interage com ninguém e todos se preocupam em registrar isoladamente em suas "memórias artificiais" cada passo do artista no palco, matando com isso o que há de mais grandioso numa celebração que é a catarse oriunda do compartilhamento das mesmas experiências coletivas. Como esquecer do primeiro show de rock, dos primeiros festivais independentes, das primeiras “rodas”? Não é preciso máquina digital para me fazer lembrar desses momentos, assim como não é preciso máquina nenhuma para me fazer lembrar da primeira vez que entrei no Maracanã e vi impávido, 100 mil pessoas gritando!
O homem de hoje, refém incondicional das memórias artificiais, não percebe que enquanto maneja suas máquinas perde o momento natural da passagem do tempo e enfraquece sua memória natural, sua percepção do mundo real. Será que no futuro teremos memória natural?
No final, o show passou e não mudou a vida de ninguém. Todos voltaram calados para suas casas, ligaram seus computadores e disponibilizaram para o mundo inteiro seus vídeos e fotos.
Por fim, registramos tudo, cada detalhe, cada minuto e cada segundo do show em nossas memórias artificiais, porém, assim como um Nosferatu eternizado, estivemos o tempo todo, sozinhos, muito sozinhos!
11 comentários:
Fala garoto!!!!!!!!Gostei muito do seu comantário.Tirando os problemas normais que podem acontecer em qualquer show,o espetáculo promovido pela banda foi demais.eu até gostei do público, mas infelizmente esta indiferença diante das paixões da vida, foi possível notar neste show.
Estamos vivendo um triste momento em que as pessoas não demonstram suas emoções,rock é pura emoção,é paixão a flor da pele,penso que precisamos fazer uma reflexão sobre o nosso comportamento,ou então estaremos correndo o risco de fazer da arte uma espécie de comprimidos artificiais para satisfazer nossas emoções de plástico,como esta era virtual em que vivemos.
VIVA A BOA E VELHA ADRENALINA DE ANTIGAMENTE,VIVA A EMOÇÃO VIVIDA POR NOSSOS PAIS.
Maurício Rossi,Professor,Militante de esquerda e musico apaixonado pela vida.
O QUE FALTA HOJE É AUTENTICIDADE!
Gostei do show!
explorando a musicalidade do último cd a banda subiu ao palco com uma proposta mais limpa priorizando a percepçao dos sons.
Também um belo espetáculo na parte visual.
Mas teria sido melhor se fosse num local fechado.
A apatia do público
Ja era de se esperar...
O Coldplay nunca teve o peso do Rock e o VIVA ficou conhecido por conta da novela.
A questão que levantei não é a simples apatia porque era o colplay, mas pq ja é observável em varios show, como o do próprio oasis,tanto do rio quanto de sp em 2006, que para mim foi o mais marcante. O que falta (no caso do rj) é uma radio rock, um publico rock e menos frescura!!!No show do Muse foi a msm coisa, no show do interpol a mesma coisa....ng se entrega. Hj isso só acontece nos shows de HC e Punk, no que restou dele, com o Ratos!
até sexta publicarei minha opinião sobre o show do coldplay... não foge da visão do guilherme não...mas me deterei mais ao show...
enfim, ótimo post...só não me venha falar de ratos de porão!!!uma merda
falta autenticidade a banda ou ao público?
E o Tom Leão do globo não escreveu tudo o que eu iria escrever? Até sobre a bat for lashes? Ainda bem q foi o tom,pq se fosse o Bernado Araujo eu ia começar a achar que o problema era eu...
sem comentários para o post...eu não fui. =(
bjos
@olivia_colares
só achei q o tom leão ja foi pro sem gostar nenhum pouco do coldplay...aí é foda! sair com um conceito pronto para critica na cabeça não acho legal...mas quase tudo q ele falou eu concordei!!
Acho que falta autenticidade aos dois! no ROCK, infelizmente 90% é lixo do lixo, porcaria da braba, puramente comercial, sem a melhor preocupação estética, enfim! Mas ao publico falta realmente paixão!
Autenticidade ao público!
Coldplay é foda!!!!
Infelismente não pude ir ao show, e independente de qualquer apatia ou problemas com som, queria sim estar lá.
Compreendo as linhas deste artigo...
Vivemos num mundo em que nossa percepção se volta sempre para o artificial. Contaminados pelo "vírus do entretenimento", aquele que nos permite apenas SER MAIS UM, mais um que posta foto e faz o upload. O que vivemos hoje nos permite a "quase onipresença", porém nos prende ao piloto automático. Programado para viver como se nada fizesse sentido, pois tudo está planejado, enquanto isso nos perdemos.
Li um post de um comediante do qual gosto muito, que dizia o seguinte: "sério; to no show do ColdPlay.. E ta ruim... Eles não levantaram a platéia... O q eu podia esperar de 1 banda q já se diz fria no nome?"
Lamento, lamento, lamento e não me conformo... é como se estivessemos morrendo... Como se emoções só pudessem ser avidadas por "grandes espetáculos". Vejo tudo e não me conformo, me recuso a aceitar!
Acredito que a EMOÇÃO, a verdadeira, aquela INDESCRITÍVEL só é possível qnd nos entregamos... qnd vivemos e gravamos em nossa mente, como uma tatuagem feita em apenas 1 flash, desesperadamente eternizado o momento ao qual nos entregamos. Um show perfeito acontece qnd artista e público fazem a "entrega", numa Perfeita Simetria, como aquela cantada por Keane... Entretanto, a cada dia que passa mais pessoas se perdem, se confundem e disseminam a ignorância que lhe é peculiar.
"This life is lived in perfect symmetry.
What I do?
That will be done to me"
Thi e como sempre... adoro "ler-te" e à vcs meninos: Doces Bjos de saudades!!!
Damis dos Anjos
PS: Agradeçam pq vcs podem ao menos presenciar grandes momentos e não ter que passar pela difícil batalha de "sobreviver ao rebolation". rsrsrrs
POR FAVOR: ME SALVEM! :p
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